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Projeto da Ufpi recebe R$ 14 milhões para produzir hidrogênio verde a partir da Caatinga
O projeto busca explorar fontes alternativas para a geração de H2V e foi um dos 13 aprovados em chamada nacional
Emelly Caroline Alves - redacao@pinegocios.com.br
A Universidade Federal do Piauí (Ufpi), em parceria com a Universidade Estadual do Piauí (Uespi) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Piauí (Fapepi), está liderando um projeto para a produção de hidrogênio verde (H2V) a partir de recursos naturais do bioma Caatinga.
A iniciativa, batizada de “Tecnologias Sustentáveis para Transição Energética a partir de Fontes Renováveis do Bioma Caatinga (H2V-PI)”, foi uma das 13 aprovadas em todo o Brasil na chamada pública da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), em parceria com o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, e receberá um financiamento de R$ 14,5 milhões.

O projeto busca explorar fontes alternativas para a geração de H2V, combinando energia solar fotovoltaica híbrida (on-grid e off-grid) e biomassa da Caatinga. Essa abordagem é considerada revolucionária, pois a produção tradicional de hidrogênio verde depende exclusivamente da eletrólise da água com energia solar ou eólica. Ao utilizar biomassa e resíduos agroindustriais, o projeto pode ampliar as possibilidades de produção sustentável e reduzir custos.
Coordenado pelos professores dra. Josy Anteveli Osajima e dr. Edson Cavalcanti da Silva Filho, da Ufpi, o H2V-PI pretende desenvolver novas tecnologias de armazenamento e aplicação do hidrogênio verde, incluindo o uso de argilas regionais para otimizar esse processo. A pesquisa conta com uma equipe multidisciplinar de especialistas em química, engenharia, física e biotecnologia.
“O financiamento permitirá a implementação da infraestrutura necessária para a produção de hidrogênio verde, incluindo equipamentos, pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias. O recurso será investido na estruturação de laboratórios, compra de materiais e fomento à formação de recursos humanos qualificados”, explica Josy Anteveli Osajima.
Conforme a professora, embora a produção de hidrogênio a partir da água do mar seja uma tecnologia mais desenvolvida e esteja em fase de investimento no litoral, se o projeto da Caatinga funcionar, ele pode ser uma alternativa, especialmente em áreas com pouca água doce, onde a biomassa da Caatinga pode ser usada de forma econômica e sustentável.
“No litoral, a abordagem tradicional se justifica pela disponibilidade de água e pela maturidade tecnológica dos processos de eletrólise marítima. Se o projeto da Caatinga demonstrar ser viável, poderá representar uma alternativa ou complemento às iniciativas no litoral, especialmente em regiões onde o acesso à água doce é limitado e o uso da biomassa seja economicamente viável. Nosso objetivo é estudar essa possibilidade, caracterizar os materiais e desenvolver processos eficientes”, diz.
Como funciona a produção de H2V no projeto?
A proposta da Ufpi envolve dois processos principais:
1. Eletrólise da água com energia solar – Um método já consolidado, que usa energia fotovoltaica para separar moléculas de hidrogênio e oxigênio na água.
2. Pirólise da biomassa da Caatinga – A biomassa e resíduos agroindustriais serão submetidos a altas temperaturas na ausência de oxigênio para produzir bio-óleo e gás, que podem ser convertidos em hidrogênio. Esse método aproveita materiais abundantes na região e reduz o desperdício de recursos naturais.
A professora Josy Anteveli destaca que a ideia surgiu a partir do grande potencial do Nordeste para energias renováveis.
“O projeto busca soluções tecnológicas sustentáveis para a produção de hidrogênio verde, reduzindo a dependência de fontes não renováveis e promovendo a descarbonização da economia regional. Além disso, a utilização de recursos naturais do bioma Caatinga fortalece a sustentabilidade da pesquisa”, afirma.
Impactos econômicos e ambientais para o Piauí
Caso o projeto avance para aplicação industrial, o impacto no Piauí, especialmente no sertão, pode ser expressivo. Além de fortalecer o setor de energias renováveis, ele pode impulsionar a economia local, gerando novos empregos e atraindo investimentos. A produção de H2V também pode agregar valor a produtos regionais, como polissacarídeos e biomassa, o que amplia a competitividade do estado no mercado energético.
“O projeto pode reduzir a dependência da importação de combustíveis fósseis, promover a economia verde e estimular investimentos no setor energético local”, afirma Osajima.
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Além dos benefícios econômicos, a pesquisa contribui para a sustentabilidade energética do Brasil, ao desenvolver tecnologias de armazenamento e reaproveitamento de resíduos agroindustriais. O hidrogênio verde é uma das principais apostas para a transição energética global, e o uso de biomassa pode tornar essa fonte de energia ainda mais acessível e competitiva.
Viabilidade no mercado e parcerias com empresas
Embora o H2V-PI tenha um grande potencial, o desafio agora é atrair o interesse do setor privado. Até o momento, não há parcerias firmadas com empresas investidoras, mas os pesquisadores reconhecem que a colaboração com o mercado será essencial para que o projeto não fique restrito ao ambiente acadêmico.
“Parcerias estratégicas com empresas do setor de energias renováveis seriam uma boa alternativa, assim como a possibilidade de prestação de serviços especializados. O projeto visa atrair investimentos privados, alinhando-se às demandas do mercado global de energia limpa”, comenta a pesquisadora.
A Ufpi aposta na criação de um Centro Temático em Energias Renováveis, que permitirá a transferência de tecnologia para o setor produtivo do Piauí. “A parceria com essas instituições fortalece a pesquisa e viabiliza a execução do projeto por meio da colaboração entre equipes multidisciplinares. A cooperação amplia as capacidades científicas e tecnológicas, além de garantir suporte institucional e financiamento”, acrescenta.
Desafios e próximos passos
A implementação do H2V-PI ainda enfrenta desafios técnicos e logísticos, como:
• Otimização dos processos de eletrólise e pirólise para garantir eficiência na produção do hidrogênio;
• Desenvolvimento de sistemas de armazenamento seguros para o H2V;
• Infraestrutura para distribuição do hidrogênio e adaptação das tecnologias à realidade regional.
O cronograma do projeto prevê uma execução ao longo de três anos, com a realização de testes em escala piloto, otimização dos materiais produzidos e desenvolvimento de modelos econômicos para viabilizar sua implementação no mercado.
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