Comércio & Serviços
Aviação
Entenda o que pesa na decisão de criar ou suspender rotas aéreas no Piauí
Demanda, dólar, suprimentos e incentivos fiscais estão entre as causas que influenciam a decisão das empresas aéreas
Emelly Caroline Alves - redacao@pinegocios.com.br
O Piauí tem enfrentado uma série de cancelamentos de voos comerciais, que afetam os aeroportos de Parnaíba, São Raimundo Nonato e Teresina. No litoral, a Azul Linhas Aéreas anunciou a suspensão das rotas para Belo Horizonte (MG) e Jericoacoara (CE) a partir de 10 de março. Já São Raimundo Nonato perderá os voos para Recife (PE). A Latam também confirmou o encerramento do voo de São Luís (MA) para Teresina no início de fevereiro.
Segundo a Azul, os cancelamentos são resultado de uma combinação de fatores econômicos e operacionais. O aumento dos custos com a aviação, agravado pela crise global na cadeia de suprimentos e a disparada do dólar, impactou diretamente a viabilidade dessas rotas. "Estamos constantemente avaliando as necessidades do mercado e ajustando nossa malha aérea de acordo com a demanda", disse a companhia em nota. Já a Latam informou que a suspensão da rota se deve a questões comerciais.
Os cancelamentos, no entanto, não se limitam ao Piauí. Outras cidades do Brasil também foram impactadas pela reestruturação das companhias aéreas.
Ao todo, a Azul vai deixar de operar em outras dez cidades: Barreirinhas (MA), Cabo Frio e Campos (ambas no RJ), Correia Pinto (SC), Crateús, Iguatú, Sobrak e São Benedito (todas no CE) Mossoró (RN) e Rio Verde (GO).
O especialista Alessandro Oliveira, pesquisador do Núcleo de Economia do Transporte Aéreo do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (Nectar-ITA), explicou em entrevista ao Diário do Nordeste que os voos regionais são mais vulneráveis a suspensões, principalmente em cenários de aumento nos custos operacionais e desvalorização do real. "Em rotas mais densas, o aumento nos custos é menos visível porque há uma alta densidade de tráfego que dilui os custos fixos. Então, se o dólar continuar subindo, é possível que mais rotas regionais sejam suspensas", afirmou.
Leia também
Movimento nos aeroportos de Teresina e São Raimundo Nonato cresce; Parnaíba apresenta queda
Aeroporto de São Raimundo pode ser administrado por mesma empresa de Guarulhos
Azul completa 14 anos de voos para Teresina
Parnaíba enfrenta dificuldades para manter voos regulares
O Aeroporto Internacional de Parnaíba tem enfrentado nas últimas duas décadas dificuldades para manter uma oferta estável de voos comerciais. Desde 2000, ao menos três companhias – OceanAir (atual Avianca), Azul e Voepass – operaram no terminal, mas nenhuma conseguiu garantir rotas contínuas. Apesar de ter capacidade para receber até 100 mil passageiros por ano, o aeroporto registrava menos de 3 mil embarques em voos privados em 2013.
Após 14 anos sem operações comerciais, o Aeroporto de Parnaíba voltou a receber voos em 2014 com a chegada da Azul. No entanto, a companhia suspendeu as operações no ano seguinte devido a ajustes na malha aérea. Após um período de retomada, entre indas e vindas de novas rotas, a cidade ficará novamente sem voos comerciais.
Em entrevista ao Piauí Negócios, Jheanny Prescott, vice-presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens no Piauí (ABAV-PI) explicou que essas mudanças são comuns porque a demanda pelos voos não é suficiente para justificar a continuidade das operações. "As companhias aéreas programam voos com a intenção de que eles sejam rentáveis, ou seja, com uma ocupação superior a 70%. Quando os voos não atingem essa ocupação, isso gera prejuízo para a companhia", afirmou.

Prescott ainda ressaltou que muitas companhias não previam a alta do dólar, o que impactou diretamente nos custos operacionais.
"Com o dólar mais valorizado, as dificuldades se agravam para as empresas aéreas, que então reavaliam suas rotas. Elas buscam locais com maior atratividade, onde possam gerar mais fluxo de passageiros. Essas operações canceladas pelo Azul no Piauí, por exemplo, serão transferidas para o interior do Paraná a partir de março”, explicou.
Impacto na Serra da Capivara
A decisão das companhias aéreas de cancelar ou suspender rotas tem gerado preocupação entre empresários e representantes do setor de turismo no Piauí. Jheanny Prescott afirmou que os cancelamentos são um golpe para o turismo local, especialmente para destinos como o Parque Serra da Capivara, em São Raimundo Nonato, que vinha ganhando popularidade.
"O nosso turismo na Serra da Capivara ainda é muito tímido, e a falta de voos diretos vai dificultar o acesso dos turistas, que, muitas vezes, acabam preferindo rotas alternativas, como ônibus", explicou Prescott.
Ela também destacou que o turismo na região estava começando a atrair visitantes de fora do país, incluindo celebridades, o que reforçava o potencial do destino. No entanto, sem alternativas viáveis de transporte aéreo, o acesso se torna mais difícil e menos atrativo para quem busca praticidade e rapidez.
"Acaba que todos perdem. Os donos de hotéis, que investem em reformas, não conseguem atrair hóspedes, as agências de viagens que não conseguem vender pacotes, e até os pequenos empreendedores, que dependem das vendas de produtos nas barracas, também são prejudicados."
Incentivos fiscais
Outro ponto crítico destacado por Prescott foi a falta de incentivos fiscais e o alto custo das passagens aéreas. "A tarifa elevada das passagens é um fator determinante para a baixa demanda. Além disso, o governo estadual ainda não adotou políticas fiscais mais agressivas que incentivem as companhias aéreas a operarem com preços mais acessíveis no Piauí", disse.
Ela comparou a situação do Piauí com a de outras regiões, como o Sul e Sudeste, onde os governos oferecem incentivos fiscais para atrair companhias aéreas e facilitar a operação de voos regionais.
O governo estadual, segundo a vice-presidente da ABAV, deve repensar suas estratégias fiscais e considerar alternativas para viabilizar a permanência das companhias aéreas, como a isenção de impostos sobre combustíveis para reduzir o custo das passagens. "Precisamos de um olhar mais atento do governo para garantir tarifas competitivas, isentar impostos sobre combustíveis e estimular a vinda de turistas para o estado", concluiu.
.jpeg)
O Piauí Negócios entrou em contato com a Secretaria de Turismo do Estado, que informou que, após a suspensão dos voos, o secretário José Neto Monteiro esteve em Brasília para uma reunião com a Bancada Federal do Piauí, o ministro da Casa Civil, Wellington Dias, o ministro do Turismo, Celso Sabino, e representantes da Azul Linhas Aéreas. Segundo a secretaria, as tratativas ainda estão em andamento e aguardam os próximos desdobramentos.
Já a Secretária da Fazenda do Estado (Sefaz-PI) informou que a Azul Linha Àreas "possui benefício fiscal concedido noe termos previstos no regulamento do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços)".
Siga o Piauí Negócios nas redes sociais
Comentários