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Mais empresas, melhores salários, menos empregos. O que mudou no setor da construção do Piauí

Para especialistas, mudança é resultado da mecanização e investimento em políticas públicas

 
 
Em 14 anos, número de empresas do setor cresceu em 55% (Foto: reprodução/Sinduscon PI)

 Em 14 anos, número de empresas do setor cresceu em 55% (Foto: reprodução/Sinduscon PI)

 
 

O número de empresas na área da construção civil com cinco ou mais trabalhadores no Piauí teve um crescimento de 55,6% na última década, porém o número de ocupados na área caiu. É o que mostra a Pesquisa Anual da Indústria da Construção (PAIC) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O levantamento abrange o período de 2013 a 2022.

Segundo o PAIC, em 2013, o estado contava com 457 empresas. Já em 2022, esse número aumentou em 254 novos empreendimentos, totalizando 711. No cenário nacional, os dados indicam uma tendência semelhante, com um aumento de 8,54% e a abertura de 5.106 novas empresas. Em 2013, eram 59.736 empresas, número que subiu para 64.842 em 2022.

 

Ao Piauí Negócios, o economista Kerle Dantas avaliou que as estatísticas coincidem com o período pós-lançamento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC II), lançado em 29 de março de 2022. O objetivo foi dar celeridade ao crescimento econômico do país, destinando recursos para as áreas de transporte, energia, cultura, meio ambiente, saúde, área social e habitação.

Economista Kerle Dantas (Foto: arquivo pessoal)


Essa política pública fez com que os empresários se sentissem seguros para investir no setor, resultando na abertura de novas empresas. A sondagem revela que, mesmo com a recessão econômica que o Brasil sofreu de 2015 a 2016, ainda sim o ramo conseguiu ter uma expansão de mercado.

"Com o intervalo de 2013 a 2022, houve um boom na engenharia civil. Durante um boom econômico, é natural a abertura de muitas empresas, pois elas são atraídas por esse crescimento", observa Dantas.

O professor de Economia da Universidade Federal do Piauí (Ufpi), Juliano Vargas, faz uma análise similar ao do economista Kerle Dantas. Para o docente, políticas públicas como essa incentivam o crescimento do mercado, bem como promovem investimentos de recursos para a área. O PAC contribuiu para esse fator.


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Quanto ao número de empregados, houve uma queda tanto no Piauí quanto em nível nacional. No estado, o número de empregados caiu de 37.722 em 2013 para 20.180 em 2022, representando uma diminuição de 46,5%. Nacionalmente, houve uma queda de 24,5%, com 2.773.953 empregados em 2013, número que diminuiu para 2.095.055 em 2022, uma redução de 678.898 pessoas empregadas no setor.

Vargas destaca que a baixa empregabilidade é um problema de longo prazo, devido às dificuldades na formalização das contratações, o que leva os trabalhadores a permanecerem na informalidade. A mecanização da indústria e a pandemia agravaram essa situação.

Aumento de salários

Outro ponto destacado na pesquisa é que, apesar das baixas na contratação, os salários dos trabalhadores da construção civil aumentaram em 20%. Há uma década, o salário era de 1,5 salário mínimo, subindo para 1,8 saláriomínimo em 2022. 
 


Esse aumento pode ser explicado pelos reajustes anuais do salário mínimo e pela necessidade de capacitação dos trabalhadores, considerando o impacto da tecnologia no mercado e nos processos de produção, segundo Vargas.

O Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon Teresina) destaca que a especialização das empresas em atividades específicas tem levado a uma mão de obra mais qualificada no estado. Esse fenômeno é resultado do processo de mecanização e industrialização.

“É reflexo da especialização, empresas que nasceram sendo muito especialistas em atividades, como as pinturas, marcenaria, gesso. Ao passo que nós tivemos aumento de empresas também tivemos uma redução da força de trabalho. Isso acontece por dois aspectos: a industrialização e a mecanização, ou seja, mais um volume maior de máquinas para poder fazer o serviço pesado”, comenta o presidente do Siduscon, Guilherme Fortes. 

Guilherme Fortes, presidente do Siduscon (Foto: divulgação)


O Sinduscon ressalta que, embora haja mais empresas especializadas na construção civil, há também uma maior informalidade entre os empregados.

“O impacto positivo é que você tem empresas mais especialistas, com pessoas mais bem treinadas tecnicamente, e o lado negativo é que você tem algumas empresas que não têm totalmente sua formalidade. Então, a situação que é uma luta do setor”, pondera.

 

(Matéria feita por Bruno do Carmo – colaboração para o Piauí Negócios)

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